Parnaíba 177 anos: esculturas de parnaibanos reunidas por 30 anos formam museu em homenagem à cidade

Parnaíba 177 anos: esculturas de parnaibanos reunidas por 30 anos formam museu em homenagem à cidade
Conheça o Museu da Escultura Parnaibano

As largas paredes dos casarões do Porto das Barcas, região histórica de Parnaíba, no litoral do Piauí, escondem um tesouro feito de madeira e amor pela cidade: uma vasta coleção de esculturas produzidas por artistas parnaibanos é uma surpresa para os visitantes de uma das lojas de suvenires. É o Museu da Escultura Parnaibana.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

A coleção tem 127 obras de 11 escultores parnaibanos e um da vizinha Ilha Grande. Todas foram compradas por Jorge Carvalho, um fiscal do Ministério do Trabalho apaixonado pela arte local e pela cidade natal. Jorge faleceu em março de 2021, 28 anos depois de começar o museu.

As peças estão sob os cuidados de Antônio Ricarte, empresário e presidente da Associação Cultural do Porto das Barcas.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

“Em 1994 ele me procurou e pediu para que guardasse as peças, e continuou comprando em seguida. Ele as entregava para mim e dizia ‘Ricarte, aqui está mais uma peça para o nosso museu’. Quer dizer, a partir dali, já não era mais dele. Era nossa”, disse o presidente da Associação.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

Segundo ele, o hábito de Jorge Carvalho de comprar as esculturas, geralmente as peças mais caras, foi de grande ajuda para os artistas locais.

“E ainda são de grande ajuda, porque os turistas podem vir e conhecer a obra. Se alguém se interessa em comprar, explicamos que não estão à venda, mas passamos o contato do artista”, explicou.

As obras

Escultura retrata cena do cotidiano de um catador de caranguejo em seu momento de descanso

Escultura retrata cena do cotidiano de um catador de caranguejo em seu momento de descanso

As 127 obras do Museu da Escultura Parnaibana foram executadas nos últimos 30 anos. Elas usam madeira da região, como a imburana de espinho, imburana de cheiro, louro e cedro. O museu fica nos fundos da loja Lapidação e Artesanato. A visitação é gratuita.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

O tema que inspira os artistas é a vida das pessoas de Parnaíba. Todas as peças mostram trabalhadores, caçadores, pescadores, e também momentos de descanso. Há cenas de pessoas fazendo farinha de goma, debulhando espigas de milho, preparando paçoca no pilão.

O rosto das peças revelam os traços do povo sertanejo e do povo indígena nos rostos, mãos e nas roupas. Os estilos dos escultores variam entre os mais e menos realistas, cheios de cores ou deixando expostos os veios da madeira sem pintura.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

Para alguns visitantes, olhar as peças é ser transportado para a própria história. Maria Cícera, uma agente de ação social que veio de União dos Palmares, no Alagoas, contou que o encontro com obras trouxe lembranças de infância e até mesmo ancestrais.

“Quando vi a peça que mostra uma moça ralando o milho, foi algo que vivenciei no interior do Alagoas. A peça com o negro acorrentado também, para mim é muito forte. É algo que emociona de fato o turista. Quando a gente chega num museu assim, faz uma volta ao passado. É um museu para todo o nordeste brasileiro”, disse Cícera.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

O povo de madeira

Um dos principais escultores presentes no museu, o parnaibano Antônio Carlos, teve seu talento descoberto por Jorge Carvalho, o idealizador do espaço. Antes lapidador de pedras e ourives, a carreira dele como escultor começou quando viu a oportunidade de vender uma peça para Jorge.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

“Há 28 anos eu vi ele comprar uma escultura de um amigo, aquilo me deu um incentivo para tentar fazer uma peça e vender para ele e ele comprou minha primeira peça. Aquilo foi muito importante para mim. O Jorge foi um pai para mim, um amigo e um irmão. Não o vejo como cliente”, disse Antônio.

Com o incentivo do amigo, Antônio seguiu aprendendo e desenvolveu sua técnica por conta própria. “Minha escola foi a vida, não tenho nenhuma formação acadêmica. Minha formação foi, simplesmente, a força de vontade para aprender. Mas o artista nunca é um profissional, somos sempre aprendizes. Somos caçadores de conhecimento”.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

Assim, usando suas ferramentas e suas lembranças, Antônio criou diversas peças que retratam o dia a dia do homem do interior do Piauí, principalmente de Parnaíba.

“Já presenciei uma senhora chorar ao ver uma peça minha, disse que lembrava o saudoso avô e as dificuldades que ela e família enfrentaram no passado. Qual de nós parnaibanos, piauienses, que não têm uma história de vida ligada ao homem da roça, ao pescador?”.

Apaixonado pela terra

O Museu da Escultura Parnaibano foi fundado por um apaixonado pela cidade. Jorge Antônio Carvalho se formou em direito na Universidade Federal do Pernambuco, ainda na década de 70, mas se tornou auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego só para poder voltar para a cidade natal.

Aniversário de Parnaíba: o museu de escultura escondido criado por um apaixonado pela cidade natal — Foto: Andrê Nascimento/ G1 PI

“Logo que terminou o curso de direito ele não queria outra coisa além de ir embora para Parnaíba. Aqui estão nossos pais, nossos amigos, e nada melhor do que estar em família. Assim como ele, a maioria dos amigos e parentes que saíram da cidade nas décadas de 60 a 80 voltaram anos depois”, contou Francisco Carvalho, irmão de Jorge.

De volta a Parnaíba, Jorge começou a atuar como auditor fiscal e a participar do meio artístico da cidade. Escreveu poemas alguns que foram publicados em revistas e jornais de Parnaíba, mas não chegou a publicar um livro. No início de 90, começaria a coleção de arte que veio a se tornar o Museu da Escultura Parnaibano.

“Sempre que podia, ele comprava uma peça dos artesãos da terra. E foi uma base forte que ele deu para os artesãos, porque muitos deles faziam aquela peça para ter o que comer no mês seguinte. Naquela época não havia turistas suficientes, e não é fácil vender obras grandes, pesadas como aquelas”, disse.

Mas o Jorge não tinha tempo para zelar pelas obras. Então decidiu confiá-las a Antônio Ricarte, e assim nasceu o Museu. “A amizade que ele tinha com o Ricarte era muito grande, e a confiança também. Jorge sabia que o Ricarte tinha esse zelo”, disse.

Jorge Carvalho faleceu no dia 17 de abril de 2021, aos 69 anos, na casa onde morava em Parnaíba. Foi auditor fiscal do trabalho por 32 anos, até se aposentar. Além do museu, deixou poemas em homenagem à cidade natal, como o poema abaixo., publicado em 1988 na revista Poemarit(i)mos:

Parnaybanzo

Quero voltar prá Parná

ficar pertinho dos meus

minha casa, meus museus

seus quintais quantas fruteiras

passarinhos nas mangueiras

sou criança outra vez

nem que seja por um mês

Quero voltar prá Parná

lá é que é meu lugar

lá é que sou feliz

pegar bronze até o nariz

paquerar o sol e o céu

da natureza ser réu

banhos de rio, banhos de mar

serestas, banhos de luar

madruga, alada a voar

a terra, o tempo estelar

Quero voltar prá Parná

Shan-gri-lá é meu lugar

ir à praça todo dia

rezar prá Graça-Maria

passear, curtir e vibrar

amigos para abraçar

birináites a sorver

novidades a versar

papos catiripapos a saber

Quero voltar prá Parná

lá é que é meu lugar

lá é que sou feliz

pois o que quis, fiz e bis.

Recife, algum dia de qualquer mês

de mais um ano de PARNAYBANZO

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